sexta-feira, 25 de julho de 2008

25 de Julho

Olá. Só para deixar uma pequena nota. A minha mãe recebeu um sms da minha médica que basicamente só dizia "parabens!" Isto é um código entre as duas para dizer que as análises da semana passada continuam a mostrar sinais de melhoras! Nem foi necessário falarem pois por sms já é suficiente. Muito bom sinal! Também tive a maravilhosa visita relampago do nosso querido Cardeal Sean O'Malley a caminho de Sidney para as Jornadas Mundiais da Juventude presididas pelo Santo Padre (para que conste: estiveram lá mais pessoas que nos próprios Jogos Olímpicos de Sydney no ano 2000!!!). O Cardeal Sean rezou Missa em que eu estive muito atenta, gostei muito e no fim cantou "A 13 de Maio na Cova da Iria...": adorei! Também fui domingo à Missa em Sta Isabel. Esta minha predilecção pelo Altar... queria ir para o pé do Padre Zé Manel enquanto ele rezava Missa e embora ele tenha feito sinal que eu podia ficar, o meu irmão foi-me lá buscar! Gosto muito do Padre Zé Manel!

Pedi à minha mãe que pusesse aqui um texto que ela escreveu para a "Partilha", revista das Equipas de Jovens de Nossa Senhora. É o resumo dum capítulo sobre o sofrimento do George Weigel e eu acho que vão gostar.

Obrigado por continuarem a rezar. Boas férias. Até para o mês que vem.

Beijinhos, Marta.


Porquê o Sofrimento?

Resumo do capítulo tirado do livro

A Verdade do Catolicismo

de George Weigel

«Na visão católica das coisas, o sofrimento faz parte integrante do drama da história do homem.»

«A ubiquidade do sofrimento há muito que é considerada um argumento contra a existência de um Deus bom. Dizer que Deus ‘permite’ o sofrimento parece transformar Deus ou num incompetente ou num sádico» e assim, sem mais, George Weigel lança-se e lança-nos para a cabeça do touro.

Não é preciso dar uma definição do sofrimento. Ou procurar exemplos. Todos nós experimentamos a dor, a raiva, o sufoco perante sofrimento brutal e incompreensível quer sejamos nós ou aqueles de quem gostamos a vivê-lo, quer sejamos testemunhas mais afastadas. O sofrimento, como diz o Papa João Paulo II na Salvifici Doloris, é uma experiência humana universal que inclui dor física e dor moral. Esta dupla faceta do nosso sofrimento revela algo de essencial sobre a nossa natureza humana e é sinal de transcendência. Tal como o amor, que não se esgota em nenhuma definição, o sofrimento é um mistério através do qual encontramos Deus. Se tivermos coragem para pensar esta aparente ligação entre natureza humana e sofrimento abrimo-nos a uma leitura do mundo diferente daquela que seria de esperar.

A resposta tradicional da Bíblia, lembra Weigel, é de que «o sofrimento, como o mal, é o reverso da medalha da liberdade, pelo menos como os seres humanos têm vivido a liberdade oferecida por Deus, desde Adão e Eva.» O sofrimento tem a ver com o mal, é experiência do mal. Mas o mal não é uma espécie de outro pólo em oposição ao bem, é antes a ausência do bem. Como tal, aponta para o bem. Até quando na Bíblia o sofrimento é entendido como um castigo, é para alertar para um bem que se perdeu e mostrar que essa provação constitui oportunidade especial de conversão, «outro meio através do qual nos tornamos no tipo de pessoa que pode viver com Deus para sempre».

No entanto, apesar da racionalização e das explicações, qualquer coisa continua sem fazer sentido. Se a criação é essencialmente boa, como lidar com o mundo tal como ele está? E para nosso espanto descobrimos que «a resposta de Deus ao sofrimento não é evitá-lo ou negá-lo, ou culpar a loucura humana. A resposta de Deus ao sofrimento é abraçá-lo – é entrar no mundo na pessoa do seu Filho, para redimir o sofrimento através do sofrimento.» É o Amor de Deus que desencadeia a criação e que dá sentido a tudo. Perante o horror do pecado, da ausência de bem, da recusa de Deus, Jesus não pactua: abraça a cruz e nela queima e reduz a cinzas tudo quanto é absurdo. «O amor ardente de Deus …[consome] tudo no mundo que seja incapaz de amor, incluindo o mal e o sofrimento.» E assim, quando tudo parece perdido, é quando tudo está ganho, é na cruz que tudo é renovado, é na morte de Cristo que o mundo é recriado.

Por Jesus ser quem é, ou seja o Verbo de Deus incarnado, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, o seu sofrimento ganha dimensões que ultrapassam o acontecimento propriamente dito da sua paixão e morte. Por Ele ser Deus connosco, quando caminha para a cruz, quando voluntariamente assume aquilo em que a natureza humana se afastou do plano criador de Deus, Jesus preenche com Amor de Deus o vazio deixado pelo sofrimento e pelo mal. Jesus ‘recupera’ a humanidade que sofre e que peca: Jesus redime. E pelo facto de nos redimir através do sofrimento, dá novo sentido e conteúdo a todo o sofrimento humano. O nosso sofrimento ele próprio ganha agora estofo de redenção. Vejam bem: o sofrimento não redime por ser sofrimento. O sofrimento redime porque Jesus o ligou ao Amor…e porque o Amor tudo renova.

Aqui acontece outra coisa extraordinária: o sofrimento torna-se fonte de solidariedade. Quando sofro e me associo a Jesus abro a porta da minha salvação pessoal porque entro dentro do Amor que só Deus é. Mas como o Amor de Deus se desmultiplica e não pode ficar contido, a minha experiência do sofrimento leva-me a olhar para outros que sofrem e disponibilizar-me para os ajudar. A minha paixão, enraizada na Paixão de Cristo, faz-me ter compaixão pelo meu próximo. É esta a mensagem da Parábola do Bom Samaritano. «O sofrimento, para o Cristão, não é uma anomalia [...] é uma vocação»! A capacidade de sofrer com o outro, a comoção perante o sofrimento alheio, o impulso de acorrer a prestar serviço…formam todo o meu ser para a bem-aventurança. Bebendo no mistério da cruz redentora de Cristo o seu significado, o sofrimento «transforma toda a civilização humana na ‘civilização do amor’» afirma o Papa João Paulo II.

Ancorados na Paixão e Morte de Jesus, o meu sofrimento e a minha fraqueza ficam cheios do poder de Deus, do mesmo poder redentor da cruz de Cristo, da mesma promessa de Ressurreição. E por isso se diz que com o nosso sofrimento podemos completar a obra redentora de Cristo. O Senhor Jesus ao destruir o mal e a morte rompeu para sempre as nossas cadeias e lançou os alicerces de um mundo novo. Mas porque ainda vivemos no tempo e na história, temos que fazer a experiência dessa salvação pessoalmente e renovar nós também o nosso compromisso com o Amor até que venham os novos céus e a nova terra do Apocalipse. Nascendo Homem, Deus deu dignidade divina à nossa humanidade. Assumindo sobre si o fosso abissal que o pecado provocou, Jesus trouxe Deus de novo para o meio de nós.

Agora já percebemos porque é que a pergunta ‘porquê o sofrimento’ não faz sentido. Toda a criação de Deus que é boa, como diz o Livro do Génesis, vai buscar a sua razão de ser ao Amor criador de Deus. Mas o sofrimento não é um bem em si, por isso não beneficia da bondade intrínseca daquilo que é criado por Deus. Perante o sofrimento, a pergunta só pode ser: agora o que faço eu com este sofrimento? E a resposta é Jesus quem a dá, do alto da cruz. É aquela que dá Maria, Mãe de Deus, que em silêncio, «na mágoa muda do Calvário» se enche de compaixão pelo seu Filho que morre e por todos os filhos que então lhe são confiados e que morrem por não se entregarem ao Amor. O que faço com o sofrimento? Vou oferecê-lo para salvação do mundo. Quanto mais me agarrar como lapa ao meu Senhor crucificado, mais o meu sofrimento se torna ressurreição porque o Seu jugo é suave e o Seu fardo é leve... e porque me deixou o alimento de vida para poder diariamente reconstituir forças, recentrar a minha vocação e viver já de Deus.

George Weigel não o diz, mas quem sabe o insinua, quando fala de que a humanidade tem vivido a sua liberdade em oposição a Deus: depois de Cristo, depois da incarnação do nosso Deus, já não precisamos de viver assim a nossa liberdade. Podemos vivê-la como Maria, dizendo um ‘sim’ cheio de alegria nos momentos felizes e um ‘sim’ cheio de silêncio e compaixão nos momentos de sofrimento. E recusando, sempre mais, aquilo que nos afasta de Deus, apressar a vinda gloriosa de Jesus e a instauração completa do Reino do nosso Deus que é Amor.»

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Hi there. Just a little note. My mom received a written message on her mobile phone from my doctor basically saying «congratulations!» That is a code between the two of them meaning that the results of lastweek's analyses continue to improve. They didn't even have to talk. A message was enough. Very good indeed!I have also had the marvellous short visit of our dear friend Cardinal Sean O'Malley on his way to Sydney for the World Youth Day presided over by the Holy Father (for the record: the event was attended by more people than the Sydney Olympic Games themselves in 2000!!!). Here, Cardinal Sean said Mass to which I was very attentive, I liked it very much and in the end he sang the Fátima song: that was great! I have also been to our parish Saint Elizabeth. I have this preferrence for the altar...I wanted to be next to Father Zé Manel while he was saying Mass and although he welcomed me, my brother went to get me! I love Father Zé Manel very dearly!

I have asked my mom to put here a text she's written for the Young Teams of Our Lady's Newsletter. It is the summary of a chapter on suffering by George Weigel and I think you will like it.Thank you for continued prayers. Have a great holiday. Till next month.

Love Marta.


Why do we suffer?

Summary of the Chapter taken from the book

The truth of Catholicism

by Gerorge Weigel

«In the Catholic view of things, suffering is an integral part of the history of humankind».

«The ubiquity of suffering has long been considered an argument against the existence of a good God. To say that God ‘allows’ suffering seems to make of God either an incompetent or a sadist» and so, without further ado, George Weigel throws himself, and us, into the storm.

It is not necessary to give a definition for suffering. Or search for examples. We all experience the pain, the fury, the anguish over brutal and incomprehensible suffering whether it is us or someone we love living it, whether we are more distant witnesses. Pope John Paul II in Salvifici Doloris says that suffering is a universal human experience which includes physical pain as well as moral pain. This double aspect of our suffering reveals something essential about our human nature and is a sign of transcendence. Just like love, which cannot be confined to any definition, suffering is a mystery through which we encounter God. If we have the courage to think through this apparent link between human nature and suffering, we will open ourselves to quite an unexpected understanding of the world.

The answer traditionally given by the Bible, reminds Weigel, is that «suffering, like evil, is the other side of the coin of freedom - at least as humans, since Adam and Eve, have lived freedom offered by God».

Suffering is related to evil, it is the experience of evil. But evil is not a kind of opposite pole of good, it is rather the absence of good. As such, it hints at what is the good. In the Bible, even when suffering is presented as a punishment, it serves to point towards a good that has been lost and to show that the present trial is a special opportunity for conversion, «another means by which we become the type of person who can live with God forever».

Nonetheless, despite the rationalization and explanations, something is still amiss. If creation is essentially good, what to do with the world as it is? To our astonishment, we discover that «the answer God gives to suffering is not to avoid it or deny it, or blame human madness. The answer God gives to suffering is to embrace it – it is to enter the world in the person of His Son, to redeem suffering through suffering». It is God’s love which determines creation and which gives meaning to everything. In the face of the horror of sin, of the absence of good, of the refusal of God, Jesus does not compromise: He hugs tight the cross and, in it, burns out and reduces to ashes everything that is absurd. «God’s ardent love … [consumes] everything in the world which is incapable of love, including evil and suffering». And thus, when everything seems lost that is when everything is gained, it is in the cross that all is renewed, in the death of Christ that the world is recreated.

Jesus being who He is - namely the incarnate Word of God, true God and true man - His suffering gains dimensions that go beyond His actual passion and death. Because He is God-with-us, when He walks toward the cross, when He voluntarily takes on that which in our human nature has strayed away from God’s creative plan, Jesus fills with the Love of God the void left by evil and suffering. Jesus ‘reclaims’ the suffering and sinful humanity: Jesus redeems. And because He redeems through suffering, He gives new meaning and content to all human suffering. Our own suffering becomes imbibed with the capacity to redeem. Note: suffering does not redeem because it is suffering. Suffering redeems because Jesus tied it to Love... and Love makes everything new.

Here, something extraordinary happens: suffering becomes a source of solidarity. When I am in suffering and associate myself to Jesus, I open the door of my personal salvation - because I enter into the Love that God is. But since God’s Love spreads out and cannot remain contained, my own experience of suffering, wrapped in God’s Love, makes me recognize others who suffer and enables me to help them. My passion, attached to Christ’s Passion, makes me have compassion for others. It is this, the message of the Parable of the Good Samaritan. «Suffering, for a Christian, is not an anomaly [...] it is a vocation»! The capacity to suffer alongside another, the ability to be moved by someone else’s suffering, the impulse to run in aid to anyone who is suffering... all mold my being for the Beatitudes. Receiving its meaning from the mystery of the redemptive Cross of Christ, suffering «transforms all human civilization into the ‘civilization of love’» says Pope John Paul II.

Anchored in Jesus’ Passion and Death, my suffering and my weakness become filled with the power of God, the redemptive power of Christ’s Cross, the promise of Resurrection. That is why it is said that with our suffering we can complete the redemptive work of Christ. By destroying evil and death, the Lord Jesus shattered forever our chains and laid the foundations of a new world. But because we still live in time and in history, each one of us has to experience salvation personally and individually renew the alliance with Love in anticipation of the new heavens and the new earth of the Apocalypse. Born a Man, God gave divine dignity to our humanity. Taking on the abyss caused by sin, Jesus brought back God to our midst.

Now it becomes clear why the question ‘why do we suffer’ does not make sense. All creation is good, we read in the Book of Genesis, and gets its purpose from the creative Love of God. Since it is not a good, suffering does not share from the inherent goodness of that which is created by God. In the face of suffering, the only possible question is: what do I do with this suffering? The answer to that is given by Jesus, from the Cross. It is the same given by Mary, Mother of God, who in silence, «in the mute pain of Calvary» is filled with compassion for Her Son who dies and for all the sons and daughters then entrusted to her who die because they do not give in to Love. What do I do with suffering? I am going to offer it for the salvation of the world. Inasmuch as I stick like glue to my crucified Lord, in that proportion does my suffering become resurrection …because «His yoke is easy and His burden light» and because He has left me the life giving nourishment through which I can daily rebuild strengths, re-center my vocation and live - already - of God.

George Weigel does not say it, but maybe insinuates it, when he mentions that humankind has lived its freedom in opposition to God: after Christ, after the incarnation of our God, we do not need to live out our freedom that way. We can live it like Mary, saying our ‘yes’ full of joy in moments of happiness and a ‘yes’ full of silence and compassion in moments of suffering. And by refusing ever more that which pushes us away from God, we can speed the glorious coming of Christ and the complete instauration of the Kingdom of our God who is Love.»