Começo por pedir desculpa por não ter contactado com ninguém desde o dia 10 de Abril mas é que tenho andado tão bem que pude sair do hospital no dia 15 Abril para me instalar em casa. Os antibióticos levaram a melhor à bactéria que se tinha instalado no cateter e pude assim mantê-lo o que ainda me vai dar um jeitão. Por isso, tem sido uma festa ininterrupta. Às vezes até às tantas pois estou a gostar de adormecer muito tarde o que parece não é compatível com os hábitos dos meus pais e dos meus irmãos.
A verdade é que os valores que os médicos me deram hoje são muito bons: na biopsia feita dia 23, não encontraram células cancerígenas no sangue periférico nem na medula. Ou seja depois destas doses letais de quimioterapia que apanhei desde que fui diagnosticada com a Leucemia mieloblástica aguda, o resultado parece que foi melhor que um cenário optimista. No entanto como ninguém sabe como estas células surgiram no meu corpo em Agosto do ano passado, os médicos dizem que teremos de continuar com os tratamentos e assim no dia 28 Abril (e não 16 como inicialmente previsto) começo o processo de radioterapia. Para já são 10 sessões em 10 dias úteis. Mas nem sequer tenho de ficar no internamento. Não acham óptimo?
Os meus pais sabem que se deve ser prudente a festejar mas a verdade é que eles não conseguem esconder a satisfação de se ter atingido este objectivo sem ter havido grandes efeitos colaterais. Este é mais um milagre. E o transplante continua a ser visto só como recurso de uma recaída.
Neste momento de grande alegria não posso deixar de pensar nalguns meninos e meninas que conheci desde Setembro do ano passado em que fiz o primeiro internamento de urgência no IPO. Foram crianças com quem brinquei na sala dos brinquedos e que me divertiram muito, mas que foram partindo para o Pai: o Fábio meu vizinho de quarto que morreu no dia de anos, o Lamine que fazia jogos divertidos com um leque e imagino-o a fazer as mesmas brincadeiras no Céu, o Jerson que falava comigo em crioulo e eu respondia-lhe em linguagem de bebés mas entendíamo-nos muito bem, a Elsa que não falava muito mas entre nós o silêncio e o olhar eram cúmplices, o David que entrou e saiu tão rapidamente que nem nos encontrámos (eu também, estava isolada no meu quarto), ou até o Humberto que não cheguei a conhecer mas que sei que rezou pelas minhas melhores mais do que pelas dele e que partiu no mês passado. Foram meninos infinitamente bons com quem tive o privilégio de me cruzar antes de partirem para o Pai. A todos fui pedindo pelas intenções de quem me procurou e pelas minhas próprias intenções. Sei que não se esqueceram dos meus pedidos assim que chegaram ao Céu e agora são grandes amigos que lá tenho e a quem vou recorrendo sempre.
Só uma nota muito especial ao meu querido Cardeal Sean que me baptizou e tanto tem rezado por mim e que esta semana recebeu o nosso Papa nos Estados Unidos. Acabei por não conseguir ver muito da viagem na televisão mas hoje em dia há outros recursos: tenho ido a sites ver os momentos mais importantes, www.vatican.va/, catholic.net/, www.catholictv.org/, www.h2onews.org/, www.zenit.org/, cardinalseansblog.org/. Que maravilha! O Papa, que chamou à sua viagem ‘Cristo nossa esperança’, levou à América uma lufada de Deus que não deixou ninguém indiferente. Louvado seja Deus!
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I must start by apologizing for not having said anything since April 10, but the fact is I have been well enough to have come home on the 15th. Antibiotics won over the bacteria and I was able to keep my catheter which is still going to be much needed. So it has been nonstop celebrating, sometimes till quite late. In the hospital, I got in the habit of falling asleep very late and I have been keeping that trend at home… which seems to conflict strangely with my parents’ schedules.
Truth is, the news that my doctors gave me today is very good indeed: in the biopsy done on 22nd, no cancer cells were found in the peripheral blood and especially in the bone marrow. It seems that the lethal doses of chemotherapy I was treated with since my being diagnosed with mieloblastic leukemia last September produced a better than expected result. However, since no one knows what caused the cancer in the first place, we will have to continue with the treatments. Next step is radiotherapy which will start on Monday 28th (and not last 16th as initially expected). We are looking at 10 sessions in ten week days. But I can come home every day. Isn’t that great?
My parents know the need for prudence in celebrating but they themselves cannot hide their great satisfaction at our getting to this stage without any major collateral damage. This is one more miracle. And the transplant is still seen as a resource for a relapse.
At this particularly happy moment, I cannot but think of boys and girls I met at the Hospital since my first emergency stay in September. Children I had fun with at the playroom and who have gone to the Father: Fabio, my next door neighbor who died on his birthday, Lamine who used to do beautiful movements with his fan – and I imagine him doing the same in heaven-, Jerson who spoke to me in Creole and I answered in baby language, Elsa who didn’t speak much but we exchanged silences and looks that spoke loudly, David who came and went so fast we didn’t have time to run into each other (I was in isolation in my room), or even Humberto who, although we didn’t meet, I know prayed that I get better harder than for himself and who died last month… These were amazingly good children whom I had the privilege to know before they left for Our Father. To each one I asked for the intentions of those who have crossed my path as well as my own. I know they have not forgotten my requests when they got to heaven and now they are great friends I have up there with whom I often talk.
Just a special note to my dear Cardinal Sean who baptized me and has been praying so hard for me and who this week welcomed our Pope to the United States. I ended up not catching a lot on tv so I am particularly glad for modern sources on the net: www.vatican.va/, catholic.net/, www.catholictv.org/, www.h2onews.org/, www.zenit.org/, cardinalseansblog.org/. How truly marvelous! The Pope, who named his trip ‘Christ our hope’, took to America a breath of God that has left no one indifferent. Thanks be to God!